no raio x três costelas quebradas
nenhuma outra evidência
(só o osso sabe)
diz chega no megafone
se pedir com carinho
e pediu
é óbvio
cara lavada a seco
roupa na goma
cheque pré-datado
sem pala
quisto
bem articulado.
digo chego no megafone
rio cavalo
pediu com carinho
foi,
tomou a cena delicado.
rompe amarelo fiação elétrica
faz-se festa de cabos e fala cortada
tudo range
quando se não tem porta nem janela
no apartamento
(só o osso sabe)
vizinha não acorda
cachorro late que só a porra
sim,
ainda agora nesse silêncio
quando o corpo cai escuro
falta escuta
nunca houve
o tombo dos cabelos
quina do lavabo
aquele estrondo
até que número você conta
8 foi
+
esfrega a toalha quente nas pálpebras
o prédio ainda fixo
no rompante dessa memória
em torno
lanchonetes e as 2 colegiais
eufóricas
preparam-se para o primeiro beijo
no pátio da escola municipal.
raro como ver as próprias mãos nos sonhos
é amarrar bem os cadarços
sem desequilibrar
os joelhos moles.
qual língua chegou antes
enquanto qualquer palavra aborrece
no roxo da garganta
não sei.
só o espaço em nervos
salivas nadando de braçada
exímias atletas
como mover-se na cidade hoje
perguntam
com isso tudo debaixo da axila
como segurar de outro jeito
* * *
a cabeceira agora pertence à gisele.
era da bisavó
enterrada no cemitério areia branca em 97.
gisele, a herdeira
manda reformar o móvel e que façam pintura em pátina.
enquanto
a cabeceira inteira esconde
os cupins trabalhando
com outros cupins
democráticos
enquanto
a família inteira esconde
o nome de uma mulher
que amou outra mulher
até o verão de 97.
que deixou uma cabeceira,
(essa mulher,
jamais a outra)
alguns boletos vencidos
um corpo com tamanho exato
1,65 a serem depositados
no caixão
hermeticamente fechado
gaveta e lacre
punho e frio.
gisele tem um nome.
sua bisavó tinha a cabeceira
unhas curtas e em carne viva
ainda agora.
três tumores no estômago
iguaizinhos a mexericas
diz o médico
iguaizinhos a mexericas!
repete a família.
+
a cabeceira agora pertence à gisele.
era da bisavó
enterrada no cemitério areia branca em 96.
gisele, a herdeira
manda reformar o móvel
que façam pintura em pátina.
enquanto
a cabeceira inteira esconde
os cupins trabalhando
com outros cupins
quase democráticos
enquanto
a família inteira esconde
o nome de uma mulher que amou outra mulher
no silêncio
até o verão de 97.
deixou uma cabeceira
— essa mulher,
jamais a outra —
muitos boletos
um corpo com tamanho exato
1,62 de ossos e pele ruim
a serem depositados no caixão
perfeitamente
gisele tem nome
sua bisavó tinha a cabeceira.
unhas curtas e em carne viva
ainda agora
três tumores no estômago
iguaizinhos a mexericas
diz o médico
iguaizinhos a mexericas!
repete a família.
Natasha Felix nasceu em 1996, é de Santos-SP. Agora está por São Paulo. Publicou os zines anemonímia (2016) e j. não é um nome (selo manga, 2017). Tem textos publicados em alguns sites e revistas digitais e físicos.