na ribeirinha dum latifúndio, de Ricardo Escudeiro

ah mia senhor fremosa
aqui donde piso
por vontade tua

jamais por própria
clamaram estribilhos
soltos

com a sola do joelho
que de mim outra postura
a ti não agrada
canto em tom imposto
cantigas de desamor
sobre ti
sobre mim
sobre os meus

deserdeiros
chamaram de novo
os estribilhos outros

a eles ensino a sina
olha filho
daqui até donde a vista pisa
nada é teu
é tudo engenho

e do lado
se de pai ou de filho ou de ninguém
ninguém sabe
mais de uma voz em levante
canta pro arame manto
farpado jamais idealizado

amor não te devo
tampouco algum teu me encanta

Ricardo Escudeiro (Santo André-SP, 1984) é autor dos livros de poemas rachar átomos e depois (Editora Patuá, 2016) e tempo espaço re tratos (Editora Patuá, 2014). Graduado em Letras na USP, desenvolve (ou não) projeto de mestrado com interesse em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Estudos de Gênero. Atua como assistente editorial na Patuá. Possui publicações em mídias digitais e impressas: Mallarmargens, Germina, Jornal RelevO, LiteraturaBr, Revista 7faces, Flanzine (Portugal), entre outras. Publicou mensalmente, entre 2014-2016, poemas na Revista Soletras, de Moçambique. Participou das antologias 29 de abril: o verso da violência (Editora Patuá, 2015), Patuscada: antologia inaugural (Editora Patuá, 2016), Golpe: antologia-manifesto (Punks Pôneis, 2016) e Poemas para ler nas ocupa (Editora Estranhos Atratores, 2016).