ninadí ricy
eu já fui uma índia
falava co fogo co’as águas plantas y ventanias
coisas da terra e da boca do céu
dançava me banhava nuinha co’a maloca toda
mais bão memo
era cumê homi branco
pra um poema de roberto piva
carrego nos ombros e no sangue
mistérios
lésbicos lunares
bélicos como teu nome-
canção
pássaros náufragos
nenúfares
moraesiana, 2
um acontecimento é uma coisa
tão delicada e febril
as roupas estendidas pela lavadeira
que sou eu esse vento de aurora
que me enamora uma dobra
lufadas de movimento
o cheiro e o cheiro do teu cheiro
micro.
colossal, começou pelo pé 42. enorrrme. e a cada peça tirada mais imensa me vinha. e eu precisava ver a boceta dela pra ter certeza que era mesmo uma mulher. nua. completamente nua vi a fêmea em cada pêlo. era mulher em cada poro e até no pé de número 42, sobtudo. mais mulher que qualquer outra e mais até que a que me engana, se mente, chamada minha. é muita mulher. até pra mim que não posso, não posso porque só poderia matá-la com um beijo.
último estudo pra o desapego
velhos títulos brincam
de ricochetear o marejo d’
os meus olhos. esfrego-os
um pequeno desastre me afunda
na poltrona vazia, a echevaria
apodrece. os livros que me roubou
desaparecem da estante letra-
a-letra, grandes sorvos
de esfaimento
mais adentro
mais adentro
ainda te esqueço
| poemas do livro quando vieres ver um banzo cor de fogo (poesia, Editora Patuá, 2017) |
Nina Rizzi é historiadora, tradutora, poeta e uma das articuladoras do Sarau da B1/Cj. São Cristóvão — Jangurussu/ Fortaleza-CE. Autora de tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012); caderno-goiabada (prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013); Susana Thénon: Habitante do Nada (tradução, Edições Ellenismos, 2013); A Duração do Deserto (poesia, Editora Patuá, 2014); Romério Rômulo: ¡Ah, si yo fuera Maradona! (versão em espanhol); geografia dos ossos (poesia, Douda Correria, Portugal, 2016); Oscar Hahn: Tratado de Sortilégios (tradução, Lumme Editor, 2016); quando vieres ver um banzo cor de fogo (poesia, Editora Patuá, 2017); e Alejandra Pizarnik: Árvore de Diana (tradução, Edições Ellenismos). Coedita a revista escamandro: poesia tradução crítica e escreve regularmente no quandos.