três poemas de Kátia Borges

kapalabhati

O poema perfeito respira no erro
que o socorre em kapalabhati.
O poema perfeito se esconde
enquanto respira
no erro que o socorre
em onze expirações contínuas.
O poema perfeito escorre,
em sukhasana, ujjayi-pranayama.
(bhastrikas como se rimas,
estrofes como se ramas,
dharmas como se dramas)
O poema perfeito brinca
entre os ossos do crânio

luto

Não haverá outro dezembro
como aquele em que beijei meu pai
pela última vez, a testa fria
de um homem morto.
Que ontem foi aquele
em que, juntos,
enfeitamos a árvore?
O silêncio é de ouro, me dizia.
Sinto em mim cada quilate

poema para ler em pé

Senhor, como será a vida
das mulheres altas?
Será que respiram melhor
no rarefeito espaço
de suas cabeleiras?
Serão mais vivas
as mulheres altas?
Suas ideias estratosféricas
quase roçam o azul,
não perturbam o voo dos pássaros?
Senhor, e as alegrias
das mulheres altas?

Longilíneas dores guardam.

Kátia Borges é autora dos livros De volta à caixa de abelhas (As letras da Bahia, 2002), Uma balada para Janis (P55, 2009), Ticket Zen (Escrituras, 2010), Escorpião Amarelo (P55, 2012), São Selvagem (P55, 2014) e O exercício da distração (Ed. Penalux, 2017). Teve alguns de seus poemas incluídos nas coletâneas Roteiro da Poesia Brasileira, anos 2000 (Ed. Global, 2009), Traversée d’Océans — Voix poétiques de Bretagne et de Bahia (Éditions Lanore, 2012), Autores Baianos, um Panorama (P55, 2013) e na Mini-Anthology of Brazilian Poetry (Placitas: Malpais Rewiew, 2013).