tive febre esta noite,
era eu
com cicatrizes de múltipla escuridão
era numa ordem eclesiástica da carne
a intoxicar o teu mistério —
senti as feridas reabertas à utopia,
mas nunca saberei
(da nuca ao espírito)
o que responder ao sonho interior
ali, onde gemo odores e revelações.
a febre, em insolvência de liquidez
é um inquilino feroz
que se transporta electricamente
sem assinatura, pelos espelhos universais
das coisas pequenas e
era eu a discursar o nome das coisas
normais e pequenas, talvez fosse eu
a febre que tenho dentro
e as coisas sem nome que se dizem,
as coisas que são coisas dos símbolos
que dizer do corolário da inteligência
do avesso da arte, inverso de ti
que consideração é possível
ao atravessar oceanos e discorrer
sobre a universalidade caótica do mundo
se prostrado a uns meros 37 e nove
(tão astutas são as cercanias dos substantivos)
sou insuficiente e estou quase extinto.
Fernando Chagas Duarte, geógrafo, poeta, fotógrafo amador, português, viajante do mundo e das particularidades. Nasceu em Lisboa, era setembro de 1964. Participou na génese de algumas associações e experiências colectivas sobre património cultural e imaterial. A sua vida profissional tem sido quase inteiramente dedicada ao sector das pescas. Autor de …quase cem poemas de amor e outros fragmentos (Chiado Editora, 2014), A hora das coisas (Pastelaria Studios, 2016; 2ª ed. 2017) e As palavras que faltam (Pastelaria Studios, 2017). Tem participação em mais de duas dezenas de colectâneas poéticas (Portugal, Brasil e Chile).