cópula das manhãs, poema de Wanda Monteiro

pátria nossa
assombro e orfandade
chão anoitecido de cinzas

na sombra
há sempre um interlúdio de paralisia
o tempo acautelado de
correr
estanca as horas
diante de sendas sem luz

entre_haveres_de_escombros
decreta-se o desatino
nos desvãos da inércia

renega-se o destino
ante à remissão
dos idos
tombados sob à turba dos muros de ocasos

o tempo adoece de lodo
de lama
de frio
a terra padece do fastio de luz
na letargia de dias
não amanhecidos

espera-se pelo tempo
só ele dá descanso à morte dos dias
só ele diz dos prenúncios de auroras

no exílio dos silêncios
espera-se

espera-se
até que o chão possa recolher o adubo das sombras
render-se à cópula das manhãs

haverá de aurorescer

Wanda Monteiro é escritora e poeta, uma amazônida nascida às margens do Rio Amazonas, no coração da Amazônia, em Alenquer, Estado do Pará. Reside há mais de 25 anos no Rio de Janeiro, mas só se sente em casa quando pisa no leito de seu rio. Seu livro mais recente é Aquatempo — Sementes líricas (Editora Literacidade, 2016).