três poemas de Severino Figueiredo

ofício

Come o cão sem casa:
comércio; outro cão;
ele próprio língua,
fundo, seu botão.

Come o cão sem casa:
casas — tête-à-tête;
cão que da garagem
gora seu cacete.

Come o cão sem casa:
o pau — do poema
mole sobre a folha,
broxa com o sistema.

Dona M., de areia a cabedelo, 1980

Tando em linha o trem —
mole desde mesmo
ou: se de pau duro
para de onde veio —

beira, de entre bicho,
lagarta de pelo;
entre o que é de jogo:
falta, pré-escanteio;

meio ao de família:
vó no desmantelo:
buchuda do quinto,
suja de onde veio.

lavadeira

Trabalho-tortura:
beiral de camisas
pregadas por baixo

Em redor cordão
a falta de queixo
se iguala a de braço

Severino Figueiredo escreve em Triste, mas curto e mora em Cabedelo-PB. Contatos: severino_figueiredo@hotmail.com ou @sevfig (Instagram).