três poemas de André Luiz Pinto

1. Bem, que o desejo
não escape
à fúria desse espelho:

2. advém de parte alguma
como deus
decanta a memória
condiz
à última sentença:

3. quando podemos
morrer?

4. Não parece lógico
se bem que a matéria
torne
arbítrio e santo
um lupanar

5. Imediatamente novas
(as rosas)
cultivo no escuro.

* * *

Ouvi-los
Fixa no tempo
a forma
remediando
o branco

Guardá-los
Quantos forem os bocados
deixa na planura
um gesto
mais parece socorro

Ouvi-los
depois que o repetir
sob o acorde
de aranhas

Um nexo
um corrimão avulso.

* * *

Um vento lasso
a flor restinga
areia púrpura

Chove mais
do que devia
chove menos
do que chovia

quem sabe
chore mais
A água pétrea
o largo raso

ao limite da baía
onde passeiam
tuas meninas
borboletas

singram ao sol
Um vento fosco
a língua casta

ondas revoltas
trazem às almas
almas que foram
no mar de outra gente

No mar talvez
a fome inglesa.

André Luiz Pinto é doutor em Filosofia e autor de Flor à margem (edição particular, 1999), Primeiro de Abril (Ed. Hedra, 2004), Ao léu (Ed. Bem-te-vi, 2007), Terno novo (Ed. 7letras, 2012), Nós, os dinossauros (Ed. Patuá, 2016), entre outros.