1. Bem, que o desejo
não escape
à fúria desse espelho:
2. advém de parte alguma
como deus
decanta a memória
condiz
à última sentença:
3. quando podemos
morrer?
4. Não parece lógico
se bem que a matéria
torne
arbítrio e santo
um lupanar
5. Imediatamente novas
(as rosas)
cultivo no escuro.
* * *
Ouvi-los
Fixa no tempo
a forma
remediando
o branco
Guardá-los
Quantos forem os bocados
deixa na planura
um gesto
mais parece socorro
Ouvi-los
depois que o repetir
sob o acorde
de aranhas
Um nexo
um corrimão avulso.
* * *
Um vento lasso
a flor restinga
areia púrpura
Chove mais
do que devia
chove menos
do que chovia
quem sabe
chore mais
A água pétrea
o largo raso
ao limite da baía
onde passeiam
tuas meninas
borboletas
singram ao sol
Um vento fosco
a língua casta
ondas revoltas
trazem às almas
almas que foram
no mar de outra gente
No mar talvez
a fome inglesa.
André Luiz Pinto é doutor em Filosofia e autor de Flor à margem (edição particular, 1999), Primeiro de Abril (Ed. Hedra, 2004), Ao léu (Ed. Bem-te-vi, 2007), Terno novo (Ed. 7letras, 2012), Nós, os dinossauros (Ed. Patuá, 2016), entre outros.