três poemas de Tito Leite

pétalas de solidão

O claustro é vermelho jambo.
O sopro do absoluto
girovaga em ascético silêncio
(o cheiro é de formiga).

Floreio um breviário,
acendo uma reza:
aos rios que não fecundaram
o mar.

No meu corpo salpicam
todos os sonhos do mundo.
Gosto de afinar continentes,
minha alma é oceânica.

ab initio

Nau da
existência,
a substância
salina.

Como sagrado é
o teu sexo,
salgada,
a tua língua.

Segredos de dunas,
os seus olhos
sob a lua: lumes.

Que se pólen
em acácia
lembram
um livro fecundo.

urgências

Uma chave
dentro
de um copo.

A ferida
acende-se em átomos.

A ausência espanta.

Uma cama
no meio do mar
varre uma pátria
de roupas sujas.

| poemas do livro Digitais do caos, selo Edith, 2016. |

Tito Leite nasceu em Aurora-CE (1980). É poeta e monge, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Têm outras coletâneas publicadas nas revistas Mallarmargens, Germina e na portuguesa TriploV. Digitais do caos (selo Edith, 2016) é o seu primeiro livro.