Viera de tão longe. Deixara tudo pra trás. Só a roupa do corpo e uma louca vontade. Cidade pequena. Casinhas solitárias. Muito, por fazer.
Quando viu a floresta, chorou. Nascera.
Trabalhara, trabalhara… um dia casou. Mas a floresta era o seu único amor. Ficara intimo de cada palmo da mata, de cada árvore, cada ninho de pássaro, cada toca de tatu… A onça aprendera a respeitá-lo… Uma noite ela veio, deitou-se no quintal e quando amanheceu, eles dois se olharam, trocaram dois ou três rugidos e foi só.
Quando as motosserras chegaram ele estava no eito. Correra desembestado. Gritara, esbravejara, esmurrara e levara um tiro… Em cima do coração.
A mulher desertara. Dissera medo, medo de morrer matada, que não, não aquela vida.
Embrenhado na mata, o sangue pingando, a vida sumindo… Caíra ao pé de uma jaqueira, ali ficara…
Os dias cobriram-no de folhas úmidas e os besouros passeavam sua carne enquanto os saguis e as borboletas velavam o movimento tênue da sua respiração.
Vivera, impressionante, vivera. Tomou para si… A floresta. Percorrera salões, auditórios, redações… Quando pensara que não, conseguira.
Agora tinha, por decreto, a seu cuidado, um parque por nome, todinho para olhar… E cuidar. Vencera. Viera de tão longe e vencera. Chegara com nada, agora tinha tudo.
Um dia, Dríade chegou e com ela aprenderia muitas histórias. Que nunca sonhara.
E como se o encontro deles já tivesse sido narrado, deram-se as mãos e passearam pelos caminhos da mata, nus, risonhos e fortes, como deve ser em qualquer reinvenção do paraíso.
Paulo Laurindo já foi ator, calculista e contador. Hoje pesquisa o mercado. Publica em www.certoscontosincertos.blogspot.com