três poemas de Ricardo Escudeiro

episódio cinco

“Spoiler alert”, disse Paulo Melo

princesa leia e han solo se despedem
mas só por algumas
tomadas talvez
por isso evitam desperdícios

eu te amo

eu sei

tem amor que é desaflito
descongela até coração
em carbonita endurecido

uma vez não há muito
muito tempo atrás
contou um conto do cortázar

estava tudo decidido
desde o início

continuidades

o diálogo seria repetido
até hoje
no episódio seis

roll jordan roll

“In this river all shall fade to black”
(In: “Mafia”, Black Label Society, 2005)

estação pinheiros

à barca os que são de barca

gritou
sem delongas ou demoras
condutor desleixado
o caronte
virando pra um embarcado

mas e aí me conta
como é que veio parar nesse meio

ah é uma história longa

o rio também
seja descendo seja subindo
seja plantando seja colhendo
batendo um papo parece
passa mais rápido
só não passa
só não extingue essa inhaca
desmargeando

o estige

a soprano invisível

com Djanira, mãe de mãe

“Duas fortes mulheres
Na sua dura hora.”
(Da morte. Odes mínimas — Hilda Hilst)

e disse

são seus ouvidos

como quem diz
são seus olhos
fechando-os
como bemol invade as posses
de sustenido

e dissipa e permanece

Ricardo Escudeiro (Santo André-SP, 1984) é autor dos livros de poemas rachar átomos e depois (Editora Patuá, 2016) e tempo espaço re tratos (Editora Patuá, 2014). Graduado em Letras na USP, desenvolve (ou não) projeto de mestrado com interesse em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Estudos de Gênero. Atua como assistente editorial na Patuá. Possui publicações em mídias digitais e impressas: Mallarmargens, Germina, Jornal RelevO, LiteraturaBr, Revista 7faces, Flanzine (Portugal), entre outras. Publicou mensalmente, entre 2014-2016, poemas na Revista Soletras, de Moçambique. Participou das antologias 29 de abril: o verso da violência (Editora Patuá, 2015), Patuscada: antologia inaugural (Editora Patuá, 2016), Golpe: antologia-manifesto (Punks Pôneis, 2016) e Poemas para ler nas ocupa (Editora Estranhos Atratores, 2016).