pouca carne, poema de Geovanne Otavio Ursulino

o gado rebanhos inteiros de ovelhas
cardumes inteiros de tilápia
os porcos revoadas inteiras de pombos
nem as rãs encontramos mais

algo deu errado
por isso caçamos até o último leão
caçamos até o último elefante
até o último rato no esgoto

com cogumelos frescos
folhas de alecrim
pimentas secas muito gengibre
qualquer carne é boa

os patos manadas inteiras de búfalos
cardumes inteiros de esturjão
as galinhas rebanhos inteiros de bodes
nem os gafanhotos encontramos mais

algo deu errado
por isso caçamos até a última hiena
caçamos até o último rinoceronte
até o último verme na lama

não é suficiente
porq toda carne q caçamos
é pouca nem as baleias do mar
encontramos mais

porq essa fome atravessa nossa carne
porq essa fome nos faz o q somos
por isso caçamos até o último urso branco
porq essa fome chega em todo lugar

os filhotes enxames inteiros de negros
rebanhos inteiros de viados
as putas manadas inteiras de loucos
nem os pernetas encontramos mais

algo deu errado
por isso caçamos até o último velho
caçamos até o último pobre
até o último anão na toca

Geovanne Otavio Ursulino é historiador e vive em Maceió. É também editor da Revista Alagunas. Escreve no blog Amorfo Poema. Contato: ursulino@alagunas.com.