três poemas de Leila Lopes de Andrade

quase um protesto

E se eu viesse a falar de atropelos esta manhã,
já tudo havia
fugido da mente,
um mundo em suspenso,
em sala vazia de todas as coisas e fingir
que era o sol que entrava porta adentrando minhas pequenas
palavras inusuais:
esbravejando uma corrida,
uma fuga pela tangente de tanta hipocrisia
limitações de um tempo preso ao convencional.

Amor, apenas você encurrala certos dias brancos
neblinados.

intervalo

Os dias urgentes aguardam pelas noites longas. Desejam noites.
Particularidade da estação. Ouço dizer que muito é necessário
a alguns uma vida inteira para arrebentar mil portões.
Intervalo. Escadarias ao alcance e o caminho muito torto.
Caminhantes e as mesmas banalidades.
Eu só vejo espaços vazios em alguns momentos
sem saber aonde tudo isso
irá nos levar.

inconsciente particular

Há pouco tempo seus passos premeditados aconteceram,
só não as mentiras que se obrigou a viver.
Jamais tinha medo, solidão, ela dizia, naquele tempo.
Abocanharam dez anos de misérias com sangue nos olhos.
Naquela altura seus deuses revoltados.
Mas não convém falar sobre esse corte sujo e rasgado do caderno, a parte em que pisou nos desejos de antes, movida por qualquer ódio inconsciente.

Leila Lopes de Andrade é graduada em Letras Vernáculas e Comunicação Social. Participou da Antologia Meditações sobre o fim — os últimos poemas (Editora Hariemuj/ Portugal). Tem poemas publicados na Revista Germina Literatura e outras. Edita mensalmente a Revista Cultural Diversos Afins.