real, isso aqui é real
e cheio de arestas (é só
olhar de perto e sem
formulações) cortantes,
lâminas intermináveis
na pista ondulada
em sobressaltos, e você,
enquanto desce
o tobogã de encontro
ao vazio, aproveita
a embriaguez do vento
em seus cabelos e
repara o curso
de cada mínimo
impulso da eletricidade
até o centro oculto, ali
onde o segredo pode
ser o não haver nada
no final da pista ondulante
que desce para além
da vertigem, e nem
adianta fechar
os olhos, viajante,
os dias (sem cor ou
vigorosos) ainda
passarão sem
observar a pele
sobre a íris ou
seu desejo de mudar
os quadros sucessivos
que escavam no corpo
outro desejo e assim,
num trânsito que aponta
o infinito, como se
as coisas não virassem
pó, você ainda
pode arremessar os olhos
novamente e retirar
do acaso alguma
coisa que se diga
flor e restitua
aos dias o prazer de outra
embriaguez, no transe
de todos os sentidos.
Nuno Rau é carioca, arquiteto e professor de história da arte, mestre e doutorando em história da arquitetura, e tem poemas publicados em revistas e sites como Cronópios, Germina, Sibila, Zunai, Mallarmargens, Diversos e Afins, RelevO, em diversos blogs e nas antologias Desvio para o vermelho (13 poetas brasileiros contemporâneos), pelo CCSP | Centro Cultural São Paulo, Escriptonita: pop/oesia, mitologia-remix & super-heróis de gibi, que co-organizou, e 29 de Abril: o verso da violência, ambas pela Editora Patuá e, em fase de organização, a antologia Poemáquina. Autor do livro Mecânica aplicada (2017). É um dos editores da revista eletrônica Mallarmargens.