A cada quinze dias uma colher
cheia d’água, de seus nutrientes,
não diretamente sobre a pele,
mas sobre as pedras ao redor
o sol fará seu trabalho com pouco
mas mesmo sua eventual ausência
não prende a vida à modorrência
das seivosas absorvências do açaí
o aspecto rude e primário e seco
apenasmente revela o desejo
profundo de ser deixado de lado
a mastigar viço à busca de alimento
porque aguilhão enseja solidão
existência desguarnecida de limo
a que o toque do veludo agonia
e silêncio é melodia da exatidão
sem tensão não é possível ver
a face alva e lis que alimenta arapuá
faz romper, retesar, faz brotar
pequena superfície insigne e íntima
que é toda leveza e erupção
pingo macio na áspera pele;
suporta não, que se manifeste:
expurga flor, regressa ao esporão.
Yuri Pires nasceu em 1986, na cidade do Recife (PE), onde cursou História, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e viveu até 2011, mudando-se para São Paulo (SP), onde publicou seu primeiro romance, O Homem e o Seu Tempo (Chiado Editora, 2014), seu primeiro livro de contos, Fábrica de heróis (apenas em e-book, 2015), e seu primeiro livro de poemas, Artifício (Ed. Intermeios, 2015).