dia ruim, de Rodrigo Novaes de Almeida

quo minus oculos insolito spectaculo impleret

Fiz merda. Saí do mercado, estava puto, a velha na minha frente na fila virou-se toda educada e disse que tinha guardado o lugar de outra velha. Duas velhas filhas da puta. Sentadas em seus sofás macios, devem assistir aos telejornais com seus rabos cheios de talco e ficar indignadas com tanta corrupção no mundo, mas guardam lugar pra outra na fila do mercado. Pior é a educação fingida. Gente dissimulada. Como a minha sogra, outra velha filha da puta. Na festa de réveillon estava se achando tesuda porque usava um short amarelo gema de ovo apertado no rabo e na boceta que mais parecia capô de fusca. Argh! Por que fui me lembrar disso agora? Boceta gorda e suada, aquilo deve feder pra caralho. Já tive até pesadelo com a velha, eu estava deitado na minha cama, ela abria a porta do quarto e vinha sussurrar no meu ouvido como se fosse o capeta, era um bafo, uma coisa desgraçada, não sei se ela queria pegar no meu caralho ou me enfiar um cabo de vassoura no cu, um horror, horror da porra, cramunhão dos infernos, minha sogra é um cramunhão dos infernos. Saí do mercado puto, entrei no ônibus e na hora de descer no meu ponto aquele china não me deu licença, ficou fechando o caminho. Explodi. Porra, não acredito que o trinta e dois falhou. Culpa do Chicão que me passou aquelas balas fodidas. Quer dizer que o china está no outro quarto? O policial disse japonês. Japonês, chinês, coreano, tudo a mesma merda. Bruce Lee desgraçado, vou pegar você. Caralho, tenho que avisar a Bruninha que não vai dar pra passar na casa dela hoje. Bruninha, que pena! Minha delícia. Melhor que aquela porra de mulher quadrada que tenho lá em casa. Dezenove aninhos e já trepa como gente grande. Bruninha. Gosta de uma pica, essa menina. Não posso me apaixonar. Seria roubada ficar caído por essazinha. E aquele dia que ela fingiu que estava dormindo e eu coloquei o pau na sua boca? Os dentes estavam trincados e meu pau ficou entre eles e a bochecha, indo e vindo, e ela acordou babando porra quente, mãe do céu, como foi bom. E ela sorriu. E depois pediu que eu a enrabasse. Safada. Pelo menos agora vejo que o meu pau está funcionando. Queria que ela estivesse aqui agora pra me chupar. Nem uma punheta consigo, que merda! Esses policiais não vão embora? Saíram. Ótimo. Não tenho como fugir daqui. Dessa vez entrei numa enrascada das boas. Eita-ferro, mas que porra é essa? Como é que deixaram o china entrar aqui? O que ele está dizendo? Fala português, seu viado filho da puta! Cuzão o quê? Cuzão de cu é rola, seu filho da puta! Que merda, nem falar eu consigo. Você me fez um baita estrago, seu china desgraçado! Kazuo? É o que, teu nome? Yakuza! Você é da Yakuza? Puta que pariu, me fodi bonito nessa. Não! Não faça isso, china de merda! Não arranca isso aí! Enfermeira! Enfermeira! Alguém nessa porra de hospital, socorro! Tem um maluco filho da puta querendo me matar. Que merda, não consigo falar. Você fodeu com a minha garganta, patife! Que espada é essa? Você não tinha espada no ônibus. Puta que pariu, o Bruce Lee tem uma porra de uma espada. Ninja filho da puta. Não! Não! Socorro! Esse sangue todo nas paredes é meu? Minhas tripas estão no chão, santa mãe dos aflitos. Socorro! Ele foi embora. Ufa. Enfermeira, por que demorou tanto? Não grita, idiota! Chama um médico! Faça alguma coisa! Sim, você pisou nos meus intestinos. O quê? Os policiais, o que adianta eles aqui? Voltaram por quê? Preciso de um médico, caralho! Quem? O china fugiu? Claro que a porra do china fugiu, foi ele quem fez essa sujeira toda, seus imbecis! Pegaram o nome dele? Grande coisa. Sim, ele deve estar longe agora. Está ficando escuro aqui. Sinto frio. Muito frio. Ligaram o ar condicionado? Não. Acho que não. Sou eu morrendo. Acabou tudo. Que dia ruim, meu deus!

Rodrigo Novaes de Almeida é escritor, editor e jornalista. Autor de Carnebruta (contos, Editora Oito e Meio e Editora Apicuri, 2012) e A construção da paisagem (crônicas, com Christiane Angelotti, Editora Sapere, 2012), entre outros. Site e Twitter.