Esses olhos emoldurados em minha memória
persistem
insistem
em desafiar o meu olhar arredio e insone.
Amadeo Modigliani
, numa sexta-feira noturna,
pintaria teu rosto tua cor teu corpo
teu todo
(sinuosa neutralidade no semblante)
: perplexa esfinge em constante
“conquista-me ou desprezo-te”.
Esses olhos emoldurados em minha memória
, pulsantes pupilas felinas
— ferinas na mira —
buscam o inexplicável
o absurdo
o sentido em sentir
os últimos segundos da noite.
Segundos que nos restam
, que testam o inconstante gosto
insaciável do instante.
Esses olhos emoldurados em minha memória
, além da bela fragilidade perecível dos jasmins…
Os olhos…
Esses olhos
, assim como as flores,
denunciam o medo incondicional dos jardins.
Francisco Gomes é poeta, músico, compositor e letrista. Iniciou as faculdades de História e Letras/Português, abandonou ambas. É autor dos livros Poemas Cuaze Sobre Poezias (FCMC, 2011), Aos Ossos do Ofício o Ócio (Penalux, 2014) e Face a Face ao Combate de Dentro (Kazuá, 2016). Edita o blog Pulso Poesia. Admira a carência orgulhosa dos gatos e a tranquilidade dos jabutis. Adora fígado acebolado.