cinco poemas de Luís Perdiz

templo

nunca intacto
repouso nesta superfície de cascalhos
sonhos aprendidos ao hálito da terra

lágrima primata incrustada na labareda
planície viva do princípio
tarde marmórea por onde encontro
suas coxas quentes
secretamente solares

estadia

sempre na sua casa
os vitrais se entrelaçam
as teias desnudam o tempo

as peles se dissolvem
meu alicerce mais valente
assiste o horário

córregos

bota imersa na
flora do destino
brilho transatlântico
fincado em alma

auroras e cachos
moto infinita na neblina

dilúvio de nuances
improvisando verões

o jazz campestre na barraca da noite
desfigurava também o interior de nossos pulsos

banquete

estirados sobre uvas e fogueiras
oferendados aos olhos do dragão
adormecidos em tambores e maços
devorados na miragem nupcial da ordem

as fábricas nas unhas crescem

playground

o que mais me relevava naquele
playground vazio
era o silêncio
igual ao meu

infância fantasia atravessada
merthiolates colos contrastes
amigos imaginários
todos eles filhos únicos

ensimesmado
pressentia sons de macondo

outras partes longas
indefinidas
longe do baile de minotauros

Luís Perdiz é autor do livro Saudade mestiça (Ed. Patuá, 2016). É poeta, compositor e editor do portal de literatura Poesia Primata, voltado para a degustação e difusão da poesia brasileira contemporânea. Faz parte do projeto musical autoral Estranhos no Ninho e publica regularmente em revistas de literatura e antologias, obtendo menção honrosa na 23ª edição do Programa Nascente USP. Site/contato: http://www.luisperdiz.com.br