templo
nunca intacto
repouso nesta superfície de cascalhos
sonhos aprendidos ao hálito da terra
lágrima primata incrustada na labareda
planície viva do princípio
tarde marmórea por onde encontro
suas coxas quentes
secretamente solares
estadia
sempre na sua casa
os vitrais se entrelaçam
as teias desnudam o tempo
as peles se dissolvem
meu alicerce mais valente
assiste o horário
córregos
bota imersa na
flora do destino
brilho transatlântico
fincado em alma
auroras e cachos
moto infinita na neblina
dilúvio de nuances
improvisando verões
o jazz campestre na barraca da noite
desfigurava também o interior de nossos pulsos
banquete
estirados sobre uvas e fogueiras
oferendados aos olhos do dragão
adormecidos em tambores e maços
devorados na miragem nupcial da ordem
as fábricas nas unhas crescem
playground
o que mais me relevava naquele
playground vazio
era o silêncio
igual ao meu
infância fantasia atravessada
merthiolates colos contrastes
amigos imaginários
todos eles filhos únicos
ensimesmado
pressentia sons de macondo
outras partes longas
indefinidas
longe do baile de minotauros
Luís Perdiz é autor do livro Saudade mestiça (Ed. Patuá, 2016). É poeta, compositor e editor do portal de literatura Poesia Primata, voltado para a degustação e difusão da poesia brasileira contemporânea. Faz parte do projeto musical autoral Estranhos no Ninho e publica regularmente em revistas de literatura e antologias, obtendo menção honrosa na 23ª edição do Programa Nascente USP. Site/contato: http://www.luisperdiz.com.br