algo como vinagre e sal sobre o asfalto
gelo que resiste sob o sol
queimando as superfícies
não como flor
mas como espera
algo como um dia inútil
o domingo e suas cinzas sobre o travesseiro
e que não me diga esperança
pois nada
agora e nunca as coisas fervem
dentro de uma chaleira quebrada
as coisas fervem
dentro de uma camisa de tecido sintético
lavar à mão
secar à sombra
não passar
cuidado
superfície quente
e as coisas queimam
e chove sangue e lama sobre as calçadas
e não há vento
nenhum rastro
o que há é espera
um cachorro que mija o tapete
o destinatário sempre ausente
o óleo marrom da pastelaria
e chove sangue
a calçada vermelha
o pedestre desvia da poça
ainda é segunda-feira
dentro de um domingo
e dentro das cinzas
do último cigarro
um aviso
risco de câncer
fumar causa inércia
mas não há fumantes dentro do aquário
e um incêndio
de grandes proporções
atinge a escama de um peixe elétrico
e não há fogo
apenas a faísca e o corpo de bombeiros
a escultura de um esqueleto d’água
mas não há água
e as coisas queimam
dentro das coisas
as coisas queimam
e não há água
mas não há fogo
na escama do peixe elétrico
não há fumantes dentro do aquário
fumar causa inércia
um aviso
dentro do último cigarro
e dentro das cinzas
de um domingo
um cachorro mija o tapete
nenhum rastro
e as coisas queimam
cuidado
não passar
dentro de uma camisa de tecido sintético
e dentro de uma chaleira quebrada
agora e nunca as coisas fervem
o domingo e suas cinzas
um dia inútil
queimando as superfícies
Amanda Prado é doutoranda em Estudos Literários (UFAL) e integrante do coletivo Elisa. Contato: pradoamandaps@gmail.com