a festa do rouxinol, poema de Richard Plácido

questionado e sem razão
o homem pegou duas varas de bambu
e pulou
a multidão polifônica
vai
vai
flutua homem
como pássaro na gaiola de bambu

flutua pássaro
a banalidade ao seu alcance
compra um sofá novo
esquece o antigo
com anotações do seu avô

ao criar asas
o homem sobrevoa
o subsolo dos contentamentos
sorriso fácil
à toa
os panos sujos do avô
nunca lavados

estamos todos te chamando
suas asas assadas
no café da manhã
servidas no sofá antigo
aguardando a entrega

o cachorro do homem
agora o pior inimigo
apenas lambe suas asas
de pássaro molhado

este homem sem mãe
as asas para nada
o nada é a ambiguidade
a morte de um rato que
nem existe mais

o rato entra na cena
como adulto em festa de criança
como bebês de um ano
em festa
de bebês de um ano
o rato é
a festa de um ano
da morte do rouxinol

Richard Plácido é escritor. Em 2016, publicou o livro entre ratos & outras máquinas orgânicas, pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos. Contato: richardplacido.com | placidorichard@gmail.com.