há meio século criamos nosso oráculo
demos nosso conhecimento e sabedoria
nossa culpa e dor nossos sonhos e ousadia
demos tudo ao nosso oráculo
há meio século ouvi nosso oráculo
pela primeira vez cabelos louros mãos macias
olhos fundos dizer o q um oráculo
deve dizer e então aprendi a chorar
há meio século ouço nosso oráculo
dizer o q disse há meio século
beijo suas mãos e me arrasto até casa
criando forças pra morrer
há meio século ouvimos nosso oráculo
meu pai matou minha mãe berrando eu sabia
estourou sua própria nuca eu sabia
apontando pro vazio atrás de si
há meio século ouço nosso oráculo
armado desejando estourar seu peito
mas seus olhos me atravessam a carne
me partindo os ossos e então desabo
há meio século
ouço o canto do nosso oráculo
a mesma dor como
se fosse a minha
leãozinho entre gentes tão fracas
não se mostra o q se molda
pra sua razão leãozinho
é fraqueza entre ovelhas ser leão
Geovanne Otavio Ursulino é historiador. Editor da revista Alagunas. Escreve no blog amorfo poema. Tem textos publicados nas revistas Alagunas, Zona de Impacto, Eutomia, Mallarmargens e Primeiro Capítulo. Contato: g.o.ursulino@gmail.com