poema s/título, de Jorge Vicente

nada existe mais glorioso
que derramar sangue em
estado de graça:

assumirmos que somos aquilo
que deus nos fez. seres de
terra. e não de fogo.
com mãos que crescem
e que sentem prazer. com
dedos que esfolam e que
vomitam debaixo de um poema.

existe sempre um grito,
um grito claro e de voz acesa,
que exalta e assume a morte —
a morte que é nossa e dos outros,
e de quem ousar entrar no domínio
dos nossos olhos.

(do livro noite que abre, editado pela voltad’mar: 2016)

Jorge Vicente nasceu em 1974, em Lisboa, e desde cedo se interessou por poesia. Com Mestrado em Ciências Documentais, tem poemas publicados em diversas antologias literárias e revistas, participando, igualmente, nas listas de discussão Encontro de Escritas, Amante das Leituras e CantOrfeu. Faz parte da direcção editorial da revista on-line Incomunidade. Tem quatro livros publicados, sendo o último noite que abre (voltad’mar: 2016).